Um ano

Um ano sem ter sentido
um ano passar e um ano
tido. Nem por amor sofrido
nem sentido um amor humano

Nem olhares têm me atingido
Invisível, faço de véu o pano
que tira a poeira do livro lido
e seca meu pranto por engano

No dia de hoje eu parei
e pensei: é tarde... Faz tanto
tempo que te perdi e te amei

Se um ano passa e não sei
E nem derramar consigo meu pranto
Como, em mais um ano, te esquecerei?

Distante

Nem mar
nem ar
nem vento
nem tento
saber o que há
o que está
aqui dentro
então invento
outro lugar
pra ficar

Agosto

Saudade – um samba imposto
Que mexe e remexe sem cessar
E arde, mas arde com gosto
Remédio-reforço ao medo de amar

Sentimento mais do que exposto
Saudade do gosto imposto de estar
Colado e encostado no rosto
Pulando Agosto para Setembro chegar

Um vinho para o brinde
Um doce e eterno momento
Sem que o infinito finde

Duas taças, um pensamento
E acontece o deslinde
Saudade – meu samba-alento

27do5

Não é por falta de poesia
ou noites mal dormidas
Não me queixo da correria
nem da saudade ardida

Sempre que nasce um dia
encho-me mais de vida
E quero mais a família
e penso mais na mordida

Nos lábios por ora injustiçados
nos versos não declamados
Na força do firmamento

Não é por falta de inspiração
ou problemas de criação
Sambista tem sentimento

Paixão cruel desenfreada

Num flash
a foto pisou no freio
da minha realidade
e a transformou em saudade.

Malemolência Baiana

Hoje estou num dia de malemolência baiana.
Só samba, Caymmi, capoeira, rosa morena e morena rosa.

Dissabor II

Aprendi com o samba triste
que a tristeza é passageira
e a felicidade sempre existe
até alguém ir pela primeira

Vez pra longe e muito diste
Saudade vem tão traiçoeira
e não haverá o que reconquiste
logo o vazio. Então chega a beira

do abismo e o céu no oposto
inverte o panorama e traz
bondade e um novo gosto

Feliz, explico em mim a paz
e sinto nas mãos teu rosto
Tristeza nunca mais...